terça-feira, 29 de novembro de 2016

'Ebola das oliveiras' chega a Espanha

 Um patógeno vicioso apelidado de "Ebola das oliveiras" pelo jornal espanhol El Mundo e que, de acordo com especialistas que tiveram de lidar com ele no passado, tem o potencial de devastar a colheita de azeitona da União Europeia foi visto pela primeira vez Na ilha de Maiorca.
A doença, Xylella fastidiosa, classifica-se entre as "mais perigosas do mundo", para as culturas e é uma ameaça muito grave, dizem os especialistas. O patógeno coloniza os vasos que uma planta usa para transportar água e nutrientes.

O resultado é que a planta sofre sintomas graves, tais como escaldante e murchando de sua folhagem e, eventualmente, morre. O fato de que a bactéria tem inúmeros hospedeiros e vetores é uma preocupação para as autoridades locais como a probabilidade de uma contaminação completa na ilha é um cenário que não foi excluído.

O agente patogénico foi detectado pela primeira vez em Mallorca por funcionários do Departamento de Ambiente, Agricultura e Pescas das Baleares durante um controlo de rotina em três cerejeiras localizadas num dos centros de jardinagem da cidade. Ainda não infectou as oliveiras da ilha, mas as autoridades permaneceram totalmente cautelosas sobre a questão.

Em um esforço para evitar mais contaminação funcionários do governo estabeleceram uma proibição de movimento na ilha abrangendo 15.000 hectares; O objetivo é "conter e erradicar a propagação da bactéria". As autoridades espanholas estão realizando testes em outras plantas e procurando insetos que vetores da doença, a fim de avaliar a sua propagação e, eventualmente, erradicá-lo.

Tais surtos se tornaram uma grande preocupação não só para a Espanha, mas também para a Itália e para toda a União Européia, enquanto o mercado do azeite foi afetado por colheitas medíocres e pelo aumento do preço do azeite em 2016.

De facto, espera-se que a produção de azeite 2016 da União Europeia apresente um forte declínio, uma vez que o sector enfrenta muitas ameaças. A seca e as doenças sofreram acidentes vasculares cerebrais no sul da França e na Itália, ea Espanha, maior produtora de azeite do mundo, enfrentou incertezas decorrentes das previsões pessimistas de rendimento do governo. O "Ebola das oliveiras" é ainda outra grande preocupação para os produtores de azeite europeus que tiveram um ano difícil.

A bactéria Xylella fastidiosa foi descoberta pela primeira vez em Puglia, na Itália, em 2013. O patógeno afetou muito a colheita de azeitonas na Itália - centenas de milhares de hectares de azeite foram devastados - e mais tarde causou estragos nas árvores de azeite do sul da França.

Foi previamente visto na Ásia e na América. 2015 Xylella fastidiosa surto resultou em um aumento de vinte por cento no preço do azeite. No caso de as autoridades espanholas não poderem erradicá-la, o preço do azeite poderá registar um aumento sem precedentes.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Paladar testa 10 azeites de supermercado: veja como eles se saíram

Selecionamos azeites extravirgens importados com preços de até R$ 35, reunimos especialistas e avaliamos como andam produtos que fazem parte do nosso dia a dia.         
Existe uma ampla oferta de azeites nos supermercados paulistanos e não é por acaso – o produto faz parte do dia a dia na cozinha e na mesa. E, apesar de o Brasil já ter uma produção de azeite extravirgem de qualidade notável (porém ainda em pequena escala), os azeites mais consumidos pelos brasileiros (o 11º país entre os maiores consumidores de azeite) vêm da Europa, especialmente de Portugal, Espanha e Itália.
Paladar resolveu avaliar a qualidade dos azeites disponíveis nos supermercados e montou uma cuidadosa estratégia, que começou com a lista de compras e terminou com uma prova às cegas. 
A seleção incluiu dez rótulos de nacionalidades variadas, de preços até R$ 35, a maioria entre os mais vendidos em supermercados da cidade. A prova foi feita às cegas, isto é, nenhum dos participantes sabia quais azeites estava provando. O ranking, que você confere na galeria abaixo, revelou os melhores e piores do mercado.
10º - ANDORINHA
Aroma artificial que lembra essência, tem uma nota doce de coisa madura demais, passada. Parece blend de mais de um azeite ou produto velho. Ruim. Origem: Portugal; embalado em agosto de 2016. Preço: R$ 24,30 (500 ml, na Casa Santa Luzia). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo de fraco a médio.
9º - PORTUCALE
Nota aromática de fermentação, que é um defeito; pouca intensidade tanto de picância quanto de amargor resulta em um azeite “plano”, excessivamente suave. Origem: Portugal; envasado em março de 2016. Preço: R$ 29,25 (500 ml, no Pão de Açúcar). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo de fraco a médio.
8º - BORGES
Nota metálica, defeito que pode ter sido originado em equipamentos; é apenas picante, sem conter amargor ou aromas e sabores de fruta. Origem: Espanha; produzido em agosto de 2016. Preço: R$ 17,75 (500 ml, no Extra). Bico: não é retrátil, mas é duplo, com saídas para fluxo forte e fluxo fraco; não deixa vazar.
7º - CARBONELL
Um azeite doce, parece fermentado, o que é um defeito de aroma; na boca, tem nota láctea e de ranço, desagradáveis; amargor alto. Origem: Espanha; envasado em maio de 2016. Preço: R$ 29 (500 ml, na Casa Santa Luzia). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo de fraco a médio.
6º - GALLO
Não é ruim no nariz, com notas maduras agradáveis, que lembram tomate; mas na boca tem picância muito perceptível e alta adstringência, com residual amargo. Origem: Portugal; fabricado em julho de 2016. Preço: R$ 25,69 (500 ml, no St Marche). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo médio.
5º - YBARRA
Promete no nariz algo que não entrega à boca; notas leves de ranço, um defeito; é um azeite “plano”, sem personalidade. Origem: Espanha; envasado em fevereiro de 2016. Preço: R$ 21,90 (500 ml, no Pão de Açúcar). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo médio.
4º - OLITALIA
Toque de amargor e picância, é um azeite arredondado; tem aroma adocicado, mas não chega a ser desagradável ou enjoativo. Origem: Itália; envasado em agosto de 2016. Preço: R$ 19,90 (500 ml, no Empório Santa Maria). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo forte.
3º - DE CECCO
Notas herbáceas aparecem no nariz, parece fresco, não tem aromas de defeito; na boca, a picância mais alta do que o amargor faz dele um azeite interessante. Origem: Itália; envasado em julho de 2016. Preço: R$ 30,60 (500 ml, na Casa Santa Luzia). Bico: não é retrátil, mas não deixa vazar pela borda; fluxo forte.
2º - HERDADE DO ESPORÃO
Bem equilibrado, de picância leve, tem notas herbáceas (lembra grama recém-cortada no nariz), remete a alcachofra; sabor persistente. Origem: Portugal; envasado em agosto de 2016. Preço: R$ 30,10 (500 ml, na Casa Santa Luzia). Bico: não é retrátil, mas não deixa vazar pela borda; fluxo médio.
1º - DELEYDA
Campestre, tem o herbáceo bem marcado, notas de azeite fresco; na boca, lembra tomate, tem sabor; bom equilíbrio entre picância e amargor; um azeite com personalidade. Origem: Chile; fabricado em agosto de 2016. Preço: R$ 33,50 (500 ml, no Pão de Açúcar). Bico: não é retrátil, mas não deixa vazar pela borda; fluxo médio.
O grupo de degustação reuniu dois profissionais, o degustador de azeites Paulo Freitas e o empresário Arnaldo Comin (dono da Rua do Alecrim, empório especializado em azeites brasileiros), além do chef espanhol Oscar Bosch, do restaurante Tanit, a editora do Paladar, Patrícia Ferraz, a colunista de vinhos Isabelle Moreira Lima e a repórter Renata Mesquita. 
A avaliação confirmou a tese de que os azeites envasados pelo próprio produtor (caso de Deleyda e Herdade) saem-se melhor porque, com curto intervalo entre colheita e processamento, correm menos risco de serem adulterados, diz Paulo Freitas. Além disso, as empresas que só são envasadoras compram azeite de vários produtores e podem fazer blends, além de poderem envasar azeites já velhos (e quanto mais jovem o azeite, melhor).
A legislação brasileira não ajuda, já que não obriga a indicação da safra no rótulo – só a data de envase e validade. Assim, o envasador indica que o produto foi engarrafado em agosto deste ano, por exemplo, mas não quer dizer que tenha sido colhido na última safra. Na Europa, onde estão os maiores produtores de azeite do mundo (o primeiro é a Espanha), a safra de azeitonas vai de outubro a novembro; já no Brasil, a colheita é de março a abril.

 
  Foto: Daniel Teixeira|Estadão
Os copos usados na degustação de azeites são azuis, para a cor de cada marca não influenciar os participantes da prova.
Os copos usados na degustação de azeites são azuis, para a cor de cada marca
 não influenciar os participantes da prova. Foto: Ana Paula Boni|Estadão                                                          
                    Muito além da acidez – que deve ser de até 0,5% nos azeites extravirgens e que por anos guiou consumidores em busca de “bons” azeites – outros atributos definem a qualidade: aromas e sabores (notas de frutas, legumes e ervas, como tomate, maçã, lavanda), picância (não o ardor típico da pimenta, mas a picância que pega no fundo da garganta) e amargor (sim, todo azeite extravirgem deve ter um toque amargo; é a adstringência trazida pela presença de polifenóis). 
São esses atributos que vão guiar a harmonização de um azeite com pratos. Não adianta querer colocar azeite suave em um prato muito condimentado. “Pratos como paella e moqueca pedem azeite intenso, com pungência. Já uma salada leve vai bem com um azeite pouco amargo e pouco picante”, diz Paulo.
  • 10º - ANDORINHA

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Cultura de oliva no RS e SP ganha zoneamento agrícola

Produtores devem observar as orientações das portarias para receber o Proagro
Foi publicado no Diário Oficial da União, desta quinta-feira (10), o primeiro Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) da cultura de oliva para os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. 
 
Nas portarias são apresentadas orientações aos produtores sobre municípios aptos ao plantio e ao período mais adequado à semeadura das lavouras. Para ter direito ao Proagro (Programa de Garantia da Atividade Agropecuária), ao Proagro Mais (agricultura familiar) e à subvenção federal ao prêmio do seguro rural, o produtor deve observar os indicativos desses normativos.
 
A oliveira (Olea europaea L.) é uma das plantas mais antigas cultivadas pelo homem e, devido aos benefícios que o consumo de azeite proporciona à saúde humana e pela sua comprovada eficácia na prevenção de enfermidades cardiovasculares, seu cultivo adquiriu especial relevância nos últimos anos.
 
Pertence à família botânica Oleaceae, que apresenta espécies distribuídas por várias regiões de clima temperado e subtropical do mundo.
 
Nos estados indicados no Zoneamento Agrícola, existem olivais em fase de produção, de beneficiamento de azeitonas e de embalagem de azeite. Dados recentes da Emater no Estado do Rio Grande do Sul e da Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive), mostram que, somente no Rio Grande do Sul e em São Paulo, há 1.200 hectares de terra implantados com a cultura. Sendo que ainda existem outros projetos de plantio no Rio Grande do Sul, de investidores brasileiros e estrangeiros, com áreas que chegam a atingir mais de 100 hectares em cada investimento.
 
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático é um instrumento auxiliar na gestão de riscos na agricultura. O estudo tem como objetivo reduzir os riscos relacionados aos fenômenos climáticos adversos, já que permite ao produtor identificar o melhor período de semeadura das lavouras, nos diferentes tipos de solo e de ciclos de cultivares. A técnica é de fácil entendimento e adoção pelos produtores rurais, agentes financeiros e demais usuários.
 

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Cadeia produtiva da olivicultura no Rio Grande do Sul ganha incentivo de ICMS

Para atender a uma reivindicação dos produtores gaúchos de azeite de oliva, o governo do Estado assinou, nesta quinta-feira, decreto de redução da carga tributária, através de crédito fiscal de ICMS presumido, passando a alíquota de 18% para 7% nas vendas internas (dentro do Estado) de azeite fabricado com azeitonas produzidas no País. A resolução estimula a cadeia produtiva de oliveiras no Rio Grande do Sul, auxiliando na expansão e consolidação das atuais fábricas.
Com o decreto, o Estado implementa em sua legislação o convênio ICMS 91/16 aprovado pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). A iniciativa intensifica a cooperação e as ações entre parceiros estaduais e instituições privadas, previstas no Programa Estadual de Desenvolvimento da Olivicultura (Pró-Oliva), criado em julho do ano passado pelo Decreto nº 52.479.
Hoje, o setor da olivicultura no Rio Grande do Sul é responsável por dois mil hectares de plantações de azeitonas; 160 produtores rurais em 55 municípios; oito indústrias; e 13 marcas de azeite. Segundo dados da Emater e da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação, em 2014/2015 foram produzidos 11.141 mil litros de azeite no Estado. A estimativa para a safra 2015/2016 é chegar a 33 mil litros. No ano passado o faturamento das indústrias gaúchas ficou em R$ 440 mil, de acordo com informações da Secretaria da Fazenda.
Atualmente o Rio Grande do Sul adquire cerca de R$ 35 milhões de azeite de oliva, por ano, de outros estados brasileiros - R$ 1 milhão de produção nacional e R$ 34 milhões de azeite importado. Calcula-se que, nos últimos anos, os investimentos privados passam dos R$ 80 milhões, tanto na implantação de olivais como na instalação das oito fábricas de azeites do Estado, gerando mais de mil empregos. O cultivo de olivais é um plantio demorado, de longa maturação, por isso a necessidade de incentivos.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Assinatura do decreto de estímulo à cadeia produtiva de oliveiras no RS

Fonte: Alexandre Farina - Secretaria da Agricultura
.

. - Foto: Fernando Dias - Secretaria Estadual da Agricultura, pecuária e Irrigação
Nesta quinta-feira (27), ocorre no Salão Alberto Paqualini, do Palácio Piratini,
ás 10h, a solenidade de assinatura do decreto de estímulo a cadeia produtiva
das Oliveiras no Estado. O evento terá a presença do Governador, José Ivo Sartori,
do Secretário da Agricultura, Pecuária e Irrigação, Ernani Polo, e demais autoridades.
O decreto é mais uma ação do governo em prol do setor.

Em julho do ano passado o Pro-Oliva – Programa Estadual de Desenvolvimento
da Olivicultura, através do decreto 52.479, intensificou a cooperação e o número de
ações entre parceiros estaduais e instituições privadas visando impulsionar e consolidar
a cultura da oliveira e a produção de azeites.

Dentre os objetivos do programa está a ampliação e consolidação da produção de
olivos e azeites, aproveitando as condições climáticas favoráveis que o estado oferece.
O decreto atende uma demanda do setor que solicitava um maior apoio do governo
para tornar mais competitiva a venda para outros estados e auxiliar na expansão e
consolidação das atuais fábricas já instaladas no Estado.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Persistente, a produção de azeite no Brasil tem história de meio século


Hoje, a produção de azeite no Brasil levou o país a integrar catálogos referência no mundo





Colheita das oliveiras em produção artesanal DUBES SONEGO JR.

A história do azeite no Brasil é recente e embora contenha altas doses de romantismo, não perde o fio econômico. As primeiras tentativas de produção surgiram nos anos 1950 em Campos do Jordão (SP) e Uruguaiana (RS), mas não foram adiante e viraram mato, literalmente. A Empresa de Pesquisas Agronômicas deMinas Gerais (Epamig) recolheu as variedades sobreviventes e iniciou um trabalho de pesquisas de campo que identificou a Serra de Mantiqueira como território fértil para as azeitonas. Os resultados preliminares empolgaram pequenos proprietários que buscavam alternativas de cultivo. Perto de 70 produtores iniciaram plantio no fim dos anos 90 em mais de 20 municípios, introduzindo a oliveira na bucólica paisagem de eucaliptos, jacarandás e cafezais da região.
Ao mesmo tempo, no extremo sul do Estado do Rio Grande do Sul, um número menor de produtores, mas com poder de investimento maior, aventurou-se na produção com amparo da Embrapa. Hoje, o Governo gaúcho está particularmente interessado na produção, pois a localidade é a região menos desenvolvida em agricultura do Estado e tem condições favoráveis para grandes plantações, sem contar o potencial de sinergias com a indústria do vinho que pode ser estabelecido.
Espaço para crescer é o que não falta. O Brasil, na melhor das hipóteses – não há estatísticas oficiais – produzirá algo em torno de 80 mil litros de azeite, uma gota no oceano de 80 milhões de litros de óleo de oliva consumidos anualmente no país, todo importado principalmente de Portugal e Espanha. Movimentando mais de R$ 1 bilhão, o mercado brasileiro triplicou na última década e ocupa hoje a 10ª posição no ranking global. Como o consumo per capita é de ínfimos 350 ml, contra 62 litros dos gregos, os campeões absolutos, acredita-se que o Brasil possa ficar entre os cinco maiores clientes de azeite do mundo, caso de aproxime da média anual de 1 litro por habitante dos Estados Unidos.
Para perseverar no mundo do azeite, porém, é preciso alguma dose de ousadia. “Apesar de a Embrapa não ter recomendado essa região, arriscamos o plantio em Barra do Ribeiro, perto de Porto Alegre, e pelo segundo ano consecutivo ele foi a salvação da lavoura. Nossa expectativa é produzir até 15 mil litros de azeite em 2016”, explica o produtor do azeite Prosperato, Rafael Marchetti, cuja família tem forte atuação no segmento de pinus e eucaliptos. O pomar principal da empresa fica em Caçapava do Sul, mais próxima da fronteira do Uruguai que, apesar das condições mais favoráveis para as oliveiras, enfrenta dois anos seguidos de problemas na safra.
Tropical e irreverente
Os efeitos do plantio nos biomas brasileiros são ainda incertos e levará algum tempo para saber exatamente o seu potencial produtivo. Na gastronomia, a curiosidade fica por conta dos sabores característicos que poderão estabelecer um futuroterroir brasileiro. Além disso, a possibilidade de mesclas inusitadas abre uma frente nova para o azeite feito aqui. A regra é experimentar sem preconceitos.
“O azeite brasileiro é atrevido mesmo. Os produtores aprendem fazendo na prática e já se começa a perceber notas muito particulares de sabor, como a goiaba, algo totalmente novo no repertório sensorial do azeite”, afirma Marcelo Scofano, degustador profissional e professor de gastronomia do Senac Rio. No ano passado, o “azeitólogo”, como se define, foi à Espanha com a mala cheia de rótulos brasileiros para a principal exposição de azeites do setor em Jaén, o epicentro da olivicultura no mundo. “Os degustadores ficaram surpresos em ver uma variedade koroneiki com sabor tão marcante e feita fora da Grécia”, lembra.
Fato novo na indústria, a produção nacional também despertou a curiosidade dos italianos, cujo prestígio no azeite se equipara ao dos franceses no vinho. Flos Olei, um dos mais prestigiados guias de azeites do mundo, incluiu no final do ano passado pela primeira vez cinco rótulos brasileiros no ranking, que só publica produtores que atingirem notas de 80 a 100. Olivas do Sul, a melhor colocada, não superou os 85 pontos, mas já é um começo.
Antes de conquistar o mundo, é preciso primeiro cair no gosto do brasileiro, que ainda vê a novidade como algo um tanto exótico. Criar uma imagem positiva passa pelo crivo da qualidade. A Assoolive, entidade que reúne mais de 40 produtores das serras da Mantiqueira e da Bocaina, estuda para o ano que vem a criação de um selo de qualidade para a região, que seguirá critérios mais rígidos em relação à legislação atual.
A ideia é que todos os produtos passem por uma avaliação independente do painel oficial de degustadores do Uruguai. “Nosso objetivo é que o selo seja uma garantia de qualidade e ajude a criar a ‘marca’ da Mantiqueira como produtor de azeites muito bem feitos”, explica Carlos Diniz, presidente da organização e produtor em Gonçalves (MG). Enquanto os selos e os prêmios não aparecem, o azeite brasileiro conta com o entusiasmo de chefs que buscam introduzir um novo sabor na gastronomia de origem nacional.
*Arnaldo Comin é jornalista e proprietário da Rua do Alecrim Azeites e Gastronomia

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Jovem e rebelde, azeite brasileiro abre alas na gastronomia nacional

Chefs incorporam azeite de pequenos produtores ao cardápio de ingredientes típicos do país

Persistente, a produção de azeite no Brasil tem história de meio século

Hoje, a produção de azeite no Brasil levou o país a integrar catálogos referência no mundo

A história do azeite no Brasil é recente e embora contenha altas doses de romantismo, não perde o fio econômico. As primeiras tentativas de produção surgiram nos anos 1950 em Campos do Jordão (SP) e Uruguaiana (RS), mas não foram adiante e viraram mato, literalmente. A Empresa de Pesquisas Agronômicas de Minas Gerais (Epamig) recolheu as variedades sobreviventes e iniciou um trabalho de pesquisas de campo que identificou a Serra de Mantiqueira como território fértil para as azeitonas. Os resultados preliminares empolgaram pequenos proprietários que buscavam alternativas de cultivo. Perto de 70 produtores iniciaram plantio no fim dos anos 90 em mais de 20 municípios, introduzindo a oliveira na bucólica paisagem de eucaliptos, jacarandás e cafezais da região.
Ao mesmo tempo, no extremo sul do Estado do Rio Grande do Sul, um número menor de produtores, mas com poder de investimento maior, aventurou-se na produção com amparo da Embrapa. Hoje, o Governo gaúcho está particularmente interessado na produção, pois a localidade é a região menos desenvolvida em agricultura do Estado e tem condições favoráveis para grandes plantações, sem contar o potencial de sinergias com a indústria do vinho que pode ser estabelecido.
Espaço para crescer é o que não falta. O Brasil, na melhor das hipóteses – não há estatísticas oficiais – produzirá algo em torno de 80 mil litros de azeite, uma gota no oceano de 80 milhões de litros de óleo de oliva consumidos anualmente no país, todo importado principalmente de Portugal e Espanha. Movimentando mais de R$ 1 bilhão, o mercado brasileiro triplicou na última década e ocupa hoje a 10ª posição no ranking global. Como o consumo per capita é de ínfimos 350 ml, contra 62 litros dos gregos, os campeões absolutos, acredita-se que o Brasil possa ficar entre os cinco maiores clientes de azeite do mundo, caso de aproxime da média anual de 1 litro por habitante dos Estados Unidos.
Para perseverar no mundo do azeite, porém, é preciso alguma dose de ousadia. “Apesar de a Embrapa não ter recomendado essa região, arriscamos o plantio em Barra do Ribeiro, perto de Porto Alegre, e pelo segundo ano consecutivo ele foi a salvação da lavoura. Nossa expectativa é produzir até 15 mil litros de azeite em 2016”, explica o produtor do azeite Prosperato, Rafael Marchetti, cuja família tem forte atuação no segmento de pinus e eucaliptos. O pomar principal da empresa fica em Caçapava do Sul, mais próxima da fronteira do Uruguai que, apesar das condições mais favoráveis para as oliveiras, enfrenta dois anos seguidos de problemas na safra.
Tropical e irreverente
Os efeitos do plantio nos biomas brasileiros são ainda incertos e levará algum tempo para saber exatamente o seu potencial produtivo. Na gastronomia, a curiosidade fica por conta dos sabores característicos que poderão estabelecer um futuro terroir brasileiro. Além disso, a possibilidade de mesclas inusitadas abre uma frente nova para o azeite feito aqui. A regra é experimentar sem preconceitos.
“O azeite brasileiro é atrevido mesmo. Os produtores aprendem fazendo na prática e já se começa a perceber notas muito particulares de sabor, como a goiaba, algo totalmente novo no repertório sensorial do azeite”, afirma Marcelo Scofano, degustador profissional e professor de gastronomia do Senac Rio. No ano passado, o “azeitólogo”, como se define, foi à Espanha com a mala cheia de rótulos brasileiros para a principal exposição de azeites do setor em Jaén, o epicentro da olivicultura no mundo. “Os degustadores ficaram surpresos em ver uma variedade koroneiki com sabor tão marcante e feita fora da Grécia”, lembra.
Fato novo na indústria, a produção nacional também despertou a curiosidade dos italianos, cujo prestígio no azeite se equipara ao dos franceses no vinho. Flos Olei, um dos mais prestigiados guias de azeites do mundo, incluiu no final do ano passado pela primeira vez cinco rótulos brasileiros no ranking, que só publica produtores que atingirem notas de 80 a 100. Olivas do Sul, a melhor colocada, não superou os 85 pontos, mas já é um começo.
Antes de conquistar o mundo, é preciso primeiro cair no gosto do brasileiro, que ainda vê a novidade como algo um tanto exótico. Criar uma imagem positiva passa pelo crivo da qualidade. A Assoolive, entidade que reúne mais de 40 produtores das serras da Mantiqueira e da Bocaina, estuda para o ano que vem a criação de um selo de qualidade para a região, que seguirá critérios mais rígidos em relação à legislação atual.
A ideia é que todos os produtos passem por uma avaliação independente do painel oficial de degustadores do Uruguai. “Nosso objetivo é que o selo seja uma garantia de qualidade e ajude a criar a ‘marca’ da Mantiqueira como produtor de azeites muito bem feitos”, explica Carlos Diniz, presidente da organização e produtor em Gonçalves (MG). Enquanto os selos e os prêmios não aparecem, o azeite brasileiro conta com o entusiasmo de chefs que buscam introduzir um novo sabor na gastronomia de origem nacional.
*Arnaldo Comin é jornalista e proprietário da Rua do Alecrim Azeites e Gastronomia

segunda-feira, 21 de março de 2016

3 passos para levar um bom azeite para casa; especialista dá as dicas

O Brasil é o segundo maior importador de azeites do mundo. Em 2015, foram 72 mil toneladas do produto, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, com 290 mil toneladas compradas do exterior, no mesmo período.
O mercado interno, ainda que incipiente, já desponta com bons pequenos produtores, que têm conseguido conferir qualidade às safras nacionais.
Ou seja: azeite, por aqui, é coisa séria. Arnaldo Comin, especialista em azeites (do empório Rua do Alecrim), fala sobre aspectos decisivos na hora de julgar a qualidade de um bom exemplar: “Bons azeites são frescos, de produtores identificados”.

Diz ainda:”É ilusório achar que azeite abaixo de R$20 tenha boa qualidade”. Mas pondera que, apesar dos preços nas alturas, é possível encontrar um meio-termo em supermercados.

azeite oliva
1) Fique atento ao produtor: procure pelo produtor no rótulo do azeite. Normalmente, encontra-se com facilidade o engarrafador, mas essa informação não é garantia de qualidade. O que acontece, na verdade, é que alguns engarrafadores misturam diversos azeites, de diferentes produtores. Resultado: menor quantidade possível de azeite de melhor qualidade, misturado a azeites mais baratos.
2) A idade do azeite ajuda a definir sua qualidade: quanto mais novo, melhor. Essa, definitivamente, é uma regra a ser seguida. Portanto, antes do prazo de validade, confira a data de produção. Os melhores azeites são os mais frescos, aqueles cuja acidez (oxidação das azeitonas) é mais baixa.azeite100

3) O preço do azeite: não dá para fazer milagres. Especialmente, com azeites importados. Diz Arnaldo: “abaixo de R$20, não é possível levar pra casa nada que valha a pena”. E a dica serve para nacionais e estrangeiros. Azeite de produtor único, com acidez até 0,5%, vai custar mais caro, sim. Mas, para quem gosta de azeite, não há pior sensação do que experimentar azeite insosso, sem identidade. “Azeite é alimento completo, não um complemento”, define Arnaldo.
Afora essas três dicas, vale lembrar do pós-mercado: na hora de guardar, evite a luz, calor e, em relação ao prazo de validade, o azeite costuma estar bom para consumo até dois anos após a fabricação.