segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Olivicultores da Mantiqueira apostam no potencial do azeite extravirgem

Produção é a maior do país, apesar da quebra na safra deste ano

 postado em 29/02/2016 06:00 / atualizado em 29/02/2016 08:10
 Graziela Reis /Estado de Minas
Arquivo Pessoal
Grécia, Espanha ou Itália? Nenhum dos três países. A região que está mudando sua paisagem com belas plantações de oliveiras fica nos contrafortes da Mantiqueira, entre o Sul de Minas e São Paulo. Por ali, os olivais não param de se multiplicar. A área plantada já conta com 700 mil pés, e teve acréscimo de 20% frente ao registrado no ano passado. E outras 100 mil oliveiras estão em fase de plantio pelos agricultores que apostam na azeitona e na diferenciada produção do azeite brasileiro. “A expansão é crescente e não vai parar. As oliveiras chegaram para ficar”, afirma o pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais (Epamig) Luiz Fernando de Oliveira Silva, que é um dos coordenadores da extração de azeite no núcleo da instituição de Maria da Fé. Ele calcula que os cerca de 100 produtores da região já processem cerca de  20 mil a 25 mil litros de azeite. A colheita deste ano – já em curso – é estimada em 200 toneladas de azeitonas.

A plantação de azeitonas na Serra da Mantiqueira foi pioneira no país. E Luiz Fernando acredita que a região é a maior produtora de azeites do Brasil. Além das lavouras existentes no relevo montanhoso entre Minas e São Paulo, há iniciativas no Rio Grande do Sul. “Mas eles produzem um pouco menos que a gente e começaram depois”, observa o pesquisador. No total, Luiz Fernando calcula que o processamento de azeite nacional fique em cerca dos 50 mil litros. Além de Minas, São Paulo e Rio Grande do Sul, há algumas regiões com microclimas adequados, como em serras do Espírito Santo. “Tem que ter altitude e frio na medida certa.”

No ano passado, estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que o Brasil importou algo em torno de 72 milhões de litros de azeite. “É a prova de que temos um mercado enorme para explorar”, destaca o pesquisador. Ele observa que os brasileiros ocupam a segunda colocação no ranking de consumo do valorizado óleo extraído da azeitona: perde só para os Estados Unidos, que importam perto de 229 milhões de litros.
Miguel Maciel/Divulgação
O presidente da Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive), Carlos Diniz, que tem lavouras em Consolação, no Sul de Minas, está entre os agricultores que se entusiasmam com o potencial do azeite processado a partir da azeitona colhida na serra. Ele deu início aos seus olivais há quatro anos. No ano passado, teve uma pequena colheita. Neste mês, ele já concluiu o delicado trabalho de retirada das azeitonas dos pés: colheu 800kg, que renderam 80l de azeite. “É tudo muito novo. Ainda temos muitos desafios para superar, mas trabalhamos com produto de alto valor agregado”, observa.

A associação conta com 41 olivicultores – 30 de Minas e 11 de São Paulo. Segundo Diniz, a colheita deste ano deve ser concluída nos próximos 30 dias e tende a ser igual ou um pouco menor que a registrada em 2015. “Questões climáticas afetaram a florada e a frutificação”, afirma. “Vai ser a primeira vez que não teremos expansão frente ao ano anterior”, observa o pesquisador Luiz Fernando de Oliveira. Ele explica que houve menos frio e chuva na época errada.

Hoje, quase a totalidade da produção de azeitonas da Serra da Mantiqueira é voltada para o processamento de azeite, tendo em vista a valorização do produto. O litro é vendido pela média de R$ 140. Mas já há iniciativas para a produção de conservas. Diniz explica que o azeite extravirgem é valorizado por causa da produção limitada e de suas características diferenciadas: “O frescor dele é muito maior”. Segundo Luiz Fernando, enquanto os produtos europeus costumam chegar ao mercado nacional pelo menos um ano após o processamento, o feito no estado pode estar nas mãos do consumidor em poucos dias. A acidez também é das menores, ou seja, das melhores – abaixo de 0,2%. “A baixa acidez tem a ver com o frio, com os cuidados na colheita e com a rapidez para o processamento. São as boas práticas que contam. Aqui, colhemos e em 24 horas já levamos as azeitonas para extração do azeite”, conta Diniz.

PAIXÃO A dentista Zilda Maria Maciel, que cultiva oliveiras junto com sua irmã, Edna, no Sítio Paiol Velho, em Cristina, Sul de Minas, é outra apaixonada com a produção de azeites. Elas deram início à lavoura em 2007. Hoje, têm 750 pés em produção. “E estamos plantando mais 200 pés este ano”, conta. Da colheita de 500kg da atual safra, o processamento rendeu 58 litros de azeite, sendo a maior produtividade das oliveiras da variedade arbequina. “O bom é que tudo o que sai, vende”, afirma.

Zilda está extremamente satisfeita com a atividade e com a qualidade obtida. No ano passado, uma amostra de seu azeite foi enviada para a Espanha e ficou classificada entre as 10 melhores brasileiras, na Feira Internacional do Azeite Extravirgem. Neste ano, a edição da mostra será na Grécia. E a produtora já separou os azeites para enviar. “A experiência é muito boa”, garante.

Marcos Vieira/EM/D.A Press
Os produtores da Mantiqueira vendem seus azeites principalmente para os mercados de Minas e São Paulo. “Todo mundo tá querendo”, afirma Zilda Maciel. E o produto realmente surpreende. A proprietária da Casa Bonomi, em Belo Horizonte, Maria Paula Vieira Bonomi, conta que “descobriu” o azeite da Mantiqueira em um evento em São Paulo. “Fiquei espantada. Não sabia nem que Minas tinha oliveira, ainda mais azeite”, conta, reforçando que aprovou o sabor mais fresco e diferente. “Meus preferidos são os feitos com a arbequina”, diz. Como gosta de ter em seu estabelecimento produtos típicos do estado, correu atrás de produtores. Hoje, oferece as marcas Paiol Velho, Oliq, Maria da Fé, Borrielo e VerdeOliva, em embalagens de 250ml e 500ml. Os preços variam de R$ 38 a R$ 64.

VALORIZAÇÃO Entre os associados da Assoolive há os que investem no cultivo das oliveiras sem agrotóxicos, para a obtenção da certificação de orgânicos. Dos 41, dois já têm o certificado e mais três estão no processo para conquistá-lo. “É mais uma forma de agregar valor”, observa Diniz. Entre os desafios, ele acredita que os maiores estão na implantação das lavouras. “Lidar com as formigas cortadeiras, por exemplo, é muito difícil”, diz. Mas aqueles que conseguem superar os obstáculos podem conseguir sobrepreço de até 30%.

Zilda Maciel diz que está fazendo o azeite da forma mais natural possível, mas ainda não tem o certificado orgânico. “As lavouras são muito novas. Vamos aprendendo a cada safra”, observa. No manejo normal, ela conta com dois funcionários. Na colheita, toda manual, ela contrata mais 10. “É delicada. Tem que ser feita com cuidado, para não magoar os frutos”, explica. A extração do azeite, ela faz na Epamig. Mas pretende adquirir um espremedor artesanal italiano. “Mas tá caro, perto dos R$ 150 mil. O preço praticamente triplicou no último ano. Devemos esperar mais”, conta.

Também já há iniciativas para o aproveitamento dos subprodutos do processamento do azeite. “Já fazemos sabonetes artesanais”, conta Diniz. Ele acredita que é uma cadeia que começa a ser desenvolvida e que tem um potencial muito grande para “gerar novos negócios em seu entorno”.

Lavouras de montanhas

» Custo da muda = de R$ 6 a R$ 12
» Formação da lavoura = um hectare = 416 oliveiras
» Início da produção em escala comercial = 4 anos
» Produtividade = 1kg por árvore (em início de produção) até mais de 25kg por árvore (com mais de 12 anos)
» Variedades mais plantadas = arbequina, koroneiki, arbosana, gráppolo e maria da fé
» Custo para extração do azeite = de 15% a 20% do que é obtido em óleo

Fontes: Epamig e produtores
 

Um comentário:

  1. Gostaria de me associar. Tenho uma propriedade de 5 hectares que pretendo plantar em Jesuânia e gostaria de mais informações.

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