segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Minas Gerais entra no mapa do azeite gourmet

Carlos Diniz, da Assoolive, com azeite recém-extraído: frescor
Leandro Ferreira/AAN
Carlos Diniz, da Assoolive, com azeite recém-extraído: frescor
O clima frio e a altitude da Serra da Mantiqueira estão proporcionando, no Sul de Minas Gerais, a extração de um dos melhores azeites do Brasil. Mais de 700 mil pés de oliveiras, de diferentes espécies, fizeram dessa região nos últimos seis anos uma das mais procuradas pelos turistas e investidores, e a colocou no mapa como a “toscana brasileira” do azeite. O sul do Rio Grande do Sul é a região que hoje compete com Minas, mas no ano passado teve uma produção cerca de 50% inferior à dos mineiros.
Pelo menos 40 municípios de Minas já cultivam a espécie e extraem um produto extravirgem, fresco, e que chega à mesa do consumidor em pouco tempo. São azeites de oliva com baixíssima acidez, e quanto mais novo, mais expressivas são as características de aroma e sabor, além das propriedades que são benéficas a saúde.
Municípios como Maria da Fé, Aiuroca e Delfim Moreira despontam como grandes produtores de azeite de qualidade no sul mineiro. Maria da Fé, cidade considerada a mais fria do estado, foi a pioneira na extração do primeiro azeite extravirgem nacional.
Correio Popular visitou no município o campo experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), considerado um importante local de apoio ao pequeno produtor. Foi nessa fazenda do estado, de 11 hectares de oliveiras, que em 2010 houve a primeira extração comercial da empresa, com a produção de 500 litros de azeite.
A máquina de extração instalada no campo experimental da Epamig processa azeitona de produtores de diversas cidades do sul mineiro, e da própria fazenda. De acordo com o engenheiro agrônomo da empresa, Pedro Henrique Abreu Moura, 15% do que é extraído de cada produtor fica para a Epamig.
“Estamos estimulando o produtor a fazer parcerias entre eles e começarem a compartilhar as máquinas que já foram adquiridas”, explicou. Em toda a região já são 11 máquinas instaladas em propriedades.
Prova de que os produtores estão investindo em uma cultura que, a médio e a longo prazo, poderá render frutos com melhor qualidade e preços mais acessíveis.
De acordo com o engenheiro da Epamig, o litro de azeite extravirgem comercializado na região custa R$ 140. No ano passado, a safra de azeite nos Contrafortes da Mantiqueira proporcionou 25 mil litros. Isto significa que foram processadas mais de 200 toneladas de azeitonas na última safra, e que para se extrair 1 litro de azeite são necessários até 12 kg de azeitonas.
Futuro
As oliveiras brasileiras ainda são jovens e não atingiram sua plena produção, isso sem contar as novas florestas que se iniciam. Estudos europeus mostram que a partir do quarto ano de vida a produção é crescente, estabilizando perto do 12° aniversário.
“É uma produção que vem crescendo e há um interesse grande de produtores na região quanto a essa atividade, mas tem vários desafios para se consolidarem. Um deles é que estamos conhecendo ainda a produtividade de cada variedade. Existem desafios climáticos quanto a produção da oliveira nessa região e cada variedade responde de uma forma”, explicou Carlos Diniz, produtor e presidente da Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive).
Custo inicial de produção é de R$ 10 mil por hectare
A possibilidade de retorno diante dos bons preços alcançados no mercado tem atraído produtores, mesmo que os investimentos iniciais sejam altos e o retorno, de médio prazo.
Azeite produzido na Epamig
Pesquisa feita entre os 41 associados da Assoolive revelou que o gasto inicial para implantar um hectare de olival é de R$ 10 mil. Nos anos seguintes o custo por hectare é de R$ 6 mil. Hoje são 60 produtores entre o Sul de Minas e São Paulo.
Segundo o produtor Carlos Diniz, a estimativa para 2016 é uma safra menor do que no ano passado, com a produção de aproximadamente 20 mil litros.
“Existem vários fatores climáticos que podem explicar isso. A oliveira precisa de horas de frio para ela florir, frutificar, e esse ano observamos que fez menos frio. No momento da diferenciação floral houve pouca chuva, e por outro lado em setembro, quando abre as flores e elas precisam de polinização tivemos mais chuvas”, explicou o produtor.
As condições de topografia da Mantiqueira envolvem um desafio muito grande para a produção em larga escala. “Acredito que a nossa vocação é uma escala menor em maior qualidade. Isso faz com que o nosso azeite seja direcionado a empórios e a lugares mais especializados que valorizam essa qualidade do azeite”, finalizou.
Potencial
O potencial de Minas Gerais é para atingir até 3,5 milhões de litros de azeite na próxima década, segundo dados da Epamig. Para a safra 2016, são esperadas cerca de 220 toneladas de azeitonas de diversas variedades, como Arbequina, Grappolo, Koroneiki, Maria da Fé e Ascolano.
Apesar da produção de 25 mil litros no ano passado, o consumo de azeite brasileiro corresponde a aproximadamente 0,03% do consumo total de azeite no Brasil.
A maior parte do azeite consumido no Brasil é importada de Portugal, Espanha e Itália. Em 2014, o Brasil se tornou o décimo maior consumidor mundial de azeite, ultrapassando Portugal em números absolutos e o mercado tende a crescer, pois o consumo per capita ainda é considerado pequeno.
SAIBA MAIS
A oliveira foi introduzida no Brasil pelos portugueses por volta de 1800, em diversos estados. Naquela época as árvores eram plantadas nas proximidades das igrejas.
Seus ramos eram utilizados nas festividades religiosas, principalmente na Semana Santa, para celebrar o Domingo de Ramos. O azeite era utilizado como combustível na iluminação das antigas lamparinas. Em Maria da Fé as primeiras mudas e sementes do fruto foram trazidos por um casal português em 1935.
Em 1947 oliveiras foram plantadas no centro daquela cidade e o visitante pode observar uma extensa praça com as árvores sexagenárias.

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