Adriana Lampert
Diminuir as importações de azeite de oliva e fazer com que o Rio Grande do Sul possa
suprir a demanda de mais de 2 milhões de litros do produto comercializados anualmente em supermercados gaúchos é um dos focos do Programa Estadual da Olivicultura. O pontapé inicial foi dado ontem, na sede da Secretaria da Agricultura e Pecuária (Seapa), onde ocorreu um seminário envolvendo mais de 60 pessoas, entre técnicos das Câmaras Setoriais, produtores de oliveira, fabricantes de azeite e representantes de secretarias municipais, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e de entidades como Fepagro, Embrapa e Emater. A iniciativa de reativar o grupo criado em 2009 visa ainda a equacionar as demandas da cadeia produtiva da oliveira, tanto de produtores quanto de indústrias e do varejo. "A partir de subsídios colhidos junto a entidades e a todos os envolvidos na cadeia produtiva, pretendemos estruturar o programa, já que a atividade vem crescendo no Estado e tem grande potencial", observou o titular da Seapa, Ernani Polo. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), atualmente o Rio Grande do Sul conta com aproximadamente 3 mil hectares e apresenta ritmo crescente de expansão, com novas áreas sendo plantadas. A maioria fica na Metade Sul do Estado (Caçapava do Sul, Dom Pedrito, Bagé, Santana do Livramento, Rosário do Sul, Jaguarão, Canguçu e Cachoeira do Sul). Conforme o coordenador-geral das câmaras setoriais do governo gaúcho, Rodrigo Rizzo, a atividade é uma fonte extra de renda para produtores de arroz, de frutas e de ovinocultura de corte. A extração de óleo e fabricação de azeite de oliva ainda é pequena e abastece apenas o Estado:ao todo, cinco fábricas atuam no mercado gaúcho, com pouca participação nas vendas. "A maior parte do que é consumido no Rio Grande do Sul é importado da Grécia, Espanha e Itália", aponta Enilton Coutinho, engenheiro agrônomo da Embrapa. Acostumado a realizar a introdução de oliveiras de outros países e coletar material para seleção, o técnico da Embrapa afirma que, em termos de qualidade, a produção gaúcha é competitiva. "Nosso produto é excelente", resume, completando que o azeite de oliva gaúcho é obtido através do cultivar chamado arbequina. "É mais equilibrado,então não tem um destaque tão picante nem tão amargo." Ernani Polo chamou a atenção para o que considera um "passo adiante" para o desenvolvimento da cadeia produtiva de oliveiras, com foco no estímulo do consumo do produto gaúcho. "Isso só será possível através do fortalecimento do setor." Na opinião de Rizzo, apesar da boa qualidade dos produtos, há necessidade de regramento e novas variedades que sejam mais adequadas às condições de solo, clima,relevo e vegetação do Estado. "Aí entra a Embrapa, para identificar zonas produtoras e fortaleceras associações entre os agricultores." O gerente técnico estadual da Emater, Valmir Wegner, aponta a importância do programa para o complemento de renda de agricultores familiares do Estado. Segundo Wegner, atualmente há 120 produtores de oliveira cadastrados no Rio Grande do Sul. "É uma cultura cuja cadeia produtiva não está bem organizada e tem deficiência de mão de obra na indústria", afirma. Segundo Francisco Gama, engenheiro agrônomo e fiscal federal do Mapa, apenas 39 agricultores estão habilitados no ministério para realizar o plantio no Estado. "Requer investimento alto", avalia Coutinho, lembrando que as linhas de crédito para o cultivo ainda são incipientes. "A vantagem é que é um produto que perde o caráter perecível - pode ser colhido a qualquer momento - e tem alta rentabilidade por hectare." Empresas buscam benefícios fiscaisPara as empresas da cadeia da olivicultura, as principais demandas do setorestão na legislação e na tributação. Responsável pela produção de 150 mil mudas de oliveira por ano, a Tecnoplanta,de Barra do Ribeiro, defende a regularização dos agroquímicos para o cultivo da oliveira, a necessidade de aumento da base genética e a desoneração de impostos. "A gente investe um volume muito grande de recursos, e isso gera um aprendizado amplo, que vai ficar de legado para os agricultores. Este custo poderia ser transformado em algum benefício fiscal", sugere o diretor técnico da empresa, Osmar Paulo Pereira da Rosa. Para ele, o ICMS é o imposto que mais pesa no orçamento das fabricantes de azeite de oliva. "Já faz algum tempo que pleiteamos por linhas de financiamento para compra de maquinário, tanto para otimizar a coleta, quanto para extração do azeite", completa o sócio-proprietário da Olivas do Sul,Daniel Aued. "O produtor já faz investimento alto para implementar o pomar (R$ 10 mil cada hectare), seria importante ele não precisar pagar adiantado (antes de colher) por estes equipamentos. " Segundo o empresário, o licenciamento de produtos, como defensivos que possam ser liberados para a cultura, é outra demanda urgente. |
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