sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Azeites sul-americanos começam a ganhar força no mercado brasileiro

Há novos integrantes nas prateleiras dos azeites extravirgens. Espanhóis, portugueses, gregos e outros produtos de países ao redor do Mediterrâneo já não são os únicos donos do pedaço.
Desde o ano passado, uma série de rótulos premium de pequenos produtores, importados do Chile e da Argentina, foram conquistando aos poucos seu espaço no mercado paulistano.
Agora é a vez dos uruguaios. Em julho, a linha Colinas de Garzón foi incorporada ao catálogo da importadora World Wine. E o premiado uruguaio o'33 Jose Ignacio, da região de Maldonado, deve ser o próximo: os produtores dizem estar prestes a assinar contrato com um distribuidor local.
O Brasil vem na carona. Primeiro azeite nacional em escala comercial, o Olivas do Sul, de Cachoeira do Sul, já está à venda na rede Pão de Açúcar Ða safra 2012 recebeu nota 80/100 no guia italiano Flos Oil 2013, do crítico Marco Oreggia, referência no mundo dos azeites.
Todos os sul-americanos têm um ponto em comum. São fruto de uma importante mudança que vem acontecendo no mapa da produção de azeites nos últimos dez anos, bem-vindo efeito colateral proporcionado pelo amadurecimento da vitivinicultura latina Ðas técnicas de manejo agrícola desenvolvidas pelo setor do vinho serviram como uma luva à olivocultura.
"Temos um terroir fabuloso e sem a brutalidade da neve. Oliveiras de genética europeia estão se desenvolvendo surpreendentemente", diz o empresário Luiz Eduardo Batalha (ex-Burger King), que prevê lançar seus azeites no ano que vem.
Batalha adquiriu uma propriedade de 120 hectares em Pinheiro Machado, no Rio Grande do Sul, e já tem 42 mil pés plantados com oliveiras das espécies arbequina, arbosana, frantoio, coratina, manzanilla e picual. O investimento, incluindo a compra de uma máquina extratora italiana, foi de R$ 3,5 milhões. "As 70 mil toneladas de azeites que o brasileiro consome por ano são importadas, há muito mercado. Acho que muita gente virá atrás de mim", ele aposta.
O clima da região mediterrânea está por trás da primazia da Europa na fabricação de azeites -com verões quentes, pouca chuva e ao menos 500 horas de frio intenso por ano, o continente responde por 73% da produção mundial.
Tais condições climáticas se repetem, em parte, nos terrenos ao sul do Brasil, Uruguai, Chile e Argentina. "Há microrregiões, como Maldonado, no Uruguai, que são consideradas as 'Toscanas sul-americanas'", afirma o consultor Paulo Freitas, degustador formado pela italiana Organizzazione Nazionale Assaggiatori Olio di Oliva e autor do blog Azeite Online (azeiteonline.com.br).
Fica em Maldonado a propriedade de 550 hectares que produz os 180 mil litros anuais do azeite Colinas de Garzón. As garrafas de 500 ml exibem no rótulo a espécie da azeitona usada como matéria-prima -um hábito que o brasileiro desconhece.
"Os consumidores daqui ainda escolhem o azeite só pelo país produtor. Esse amadurecimento deve vir com o tempo, como aconteceu com os vinhos", diz o consultor
Outra característica que chama a atenção nos produtos sul-americanos é a intensidade de aromas frutados, com notas amargas e picantes (leia mais abaixo).
Tais traços são obtidos apenas quando o produtor consegue colher os frutos e extrair o azeite em menos de 24 horas, e se tornam ainda mais perceptíveis se o produto final chega rapidamente à mesa do consumidor -vantagem que os nossos países vizinhos terão em relação aos europeus.
"Muitas marcas tradicionais da Europa, principalmente de grandes fabricantes, só chegam ao Brasil na safra seguinte, o que não é desejável no mercado de azeites", afirma Freitas.
Entre os olivocultores de butique que estão se destacando na América do Sul, os manuais de boas práticas são seguidos à risca.
Na sofisticada propriedade do casal Natalia Welker e Marcelo Conserva, em Maldonado, Uruguai, os rótulos do azeite o'33 Jose Ignacio são extraídas em um lagar contemporâneo projetado pelo arquiteto Marcelo Daglio, no máximo oito horas após a colheita. A produção atual, de 20 mil litros anuais, deve chegar a 180 mil litros até 2016.
MERCADO FUTURO
O número crescente de iniciantes apostando no ramo de azeites faz proliferar, no sul do Brasil, um outro tipo de produtor: o fornecedor de mudas de oliveiras.
O engenheiro agrônomo Fernando Rotondo, peruano naturalizado brasileiro, tem no catálogo 11 espécies, entre elas a espanhola arbequina e a grega koroneiki -foi de seu viveiro que saíram as mudas plantadas nas terras de Luiz Eduardo Batalha.
A Olivas do Sul também dedica parte de seu terreno, de 25 hectares, à produção de mudas para terceiros.
O sócio Daniel Aued estima que suas plantinhas já estejam cobrindo ao menos 500 hectares de clientes, só no Rio Grande do Sul.
"Todos vão começar a produzir nos próximos três anos. Podemos esperar um boom de azeites nacionais em breve."

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