As constantes chuvas nos contrafortes da Mantiqueira fizeram as azeitonas amadurecerem mais cedo e a colheita foi antecipada. Há mais de uma semana vários produtores começaram a tirar o fruto do pé em cidades na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, e a vantagem é do consumidor: algumas marcas decidiram envasar azeite sem filtragem, que já podem ser comprados.
Colheita de azeitonas na Serra da Mantiquiera Foto: Hélvio Romero|Estadão
Esse tipo de azeite, chamado de novello na Itália, é um líquido que, sem decantação ou filtragem, ainda guarda resíduos da massa da azeitona, o que diminui sua vida útil. Possui validade de até quatro meses, mas o frescor e a intensidade de sabores e aromas das azeitonas mais verdinhas valem a compra.
Na Mantiqueira, as marcas Oliq (SP) e Maria da Fé (MG) estão lançando neste ano os seus rótulos sem filtragem, com edição limitada: o Novíssimo (da Oliq) e o Nuovo (Maria da Fé) podem ser comprados com os produtores ou na Rua do Alecrim, loja de São Paulo que neste sábado realiza uma degustação gratuita em primeira mão desta safra na capital.
Outra marca que apostou nesse tipo de azeite no ano passado e vai repetir a empreitada é a gaúcha Ouro de Sant’Ana, cujo Novello pode ser reservado para a primeira semana de março, já que a colheita no Sul (outra região produtora) começa no fim de fevereiro.
Filtrado ou não, o fato é que, quanto mais fresco um azeite, melhor. Mesmo que você não compre essas primeiras extrações da azeitona, dentro de dois meses os azeites decantados já estarão nas prateleiras, tendo a vantagem do curto espaço entre a produção e a comercialização. Como a safra dos europeus é no fim do ano – e eles atravessam o Atlântico para chegar à nossa mesa –, nunca estarão tão frescos quanto o produto nacional.
Por aqui, há relatos de que mudas de oliveira tenham chegado na década de 1940, em Maria da Fé (MG), local onde só em 2008 a Epamig (empresa agropecuária de Minas) extraiu o primeiro azeite nacional do século 21. Assim, a produção brasileira ainda está engatinhando aos olhos do mundo: a maioria das oliveiras são jovens, não chegaram ao ápice de produtividade, o que ocorre a partir do sexto ano, e os olivicultores ainda estão aprendendo a lidar com o negócio e o clima.
Mas a safra deste ano é promissora e anima quem está no ramo, principalmente no Sudeste. É que por aqui fatores climáticos destruíram a safra do ano passado e a expectativa para agora ficou em cinco vezes o tamanho da produção de 2016.
“Ainda é difícil dizer o que aconteceu em 2016, mas uma das causas é que não tivemos horas suficientes de frio para a florada. Mas há variáveis que a gente ainda não domina”, afirma o olivicultor Carlos Diniz, presidente da Assoolive (Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira).
Foto: Hélvio Romero|Estadão
Segundo a Assoolive, a produção na Mantiqueira caiu de 25 mil litros de azeite em 2015 para 7 mil em 2016. Neste ano, a estimativa são mais de cinco vezes esse volume: 40 mil litros. No Sul, onde o clima é mais propício para o cultivo (mais frio e menos chuvoso), as últimas safras evoluíram gradativamente, apesar de relatos de problemas com granizo. Alguns produtores estimam dobrar a produção, como a gaúcha Ouro de Sant’Ana, que deve pular dos 3.000 litros de 2016 para estimados 7.000 litros neste ano.
Se não houver grandes estragos provocados pelo clima, a produção deve continuar crescendo, até se saber a real produtividade das oliveiras em cada região. Ainda que com a quebra de safra de 2016, as boas perspectivas do setor têm atraído gente nova ano após ano. Desta vez, a conceituada vinícola Guaspari, que colhe azeitonas em caráter experimental desde 2010, promete lançar até maio o seu azeite da Mantiqueira.