quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Paladar testa 10 azeites de supermercado: veja como eles se saíram

Selecionamos azeites extravirgens importados com preços de até R$ 35, reunimos especialistas e avaliamos como andam produtos que fazem parte do nosso dia a dia.         
Existe uma ampla oferta de azeites nos supermercados paulistanos e não é por acaso – o produto faz parte do dia a dia na cozinha e na mesa. E, apesar de o Brasil já ter uma produção de azeite extravirgem de qualidade notável (porém ainda em pequena escala), os azeites mais consumidos pelos brasileiros (o 11º país entre os maiores consumidores de azeite) vêm da Europa, especialmente de Portugal, Espanha e Itália.
Paladar resolveu avaliar a qualidade dos azeites disponíveis nos supermercados e montou uma cuidadosa estratégia, que começou com a lista de compras e terminou com uma prova às cegas. 
A seleção incluiu dez rótulos de nacionalidades variadas, de preços até R$ 35, a maioria entre os mais vendidos em supermercados da cidade. A prova foi feita às cegas, isto é, nenhum dos participantes sabia quais azeites estava provando. O ranking, que você confere na galeria abaixo, revelou os melhores e piores do mercado.
10º - ANDORINHA
Aroma artificial que lembra essência, tem uma nota doce de coisa madura demais, passada. Parece blend de mais de um azeite ou produto velho. Ruim. Origem: Portugal; embalado em agosto de 2016. Preço: R$ 24,30 (500 ml, na Casa Santa Luzia). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo de fraco a médio.
9º - PORTUCALE
Nota aromática de fermentação, que é um defeito; pouca intensidade tanto de picância quanto de amargor resulta em um azeite “plano”, excessivamente suave. Origem: Portugal; envasado em março de 2016. Preço: R$ 29,25 (500 ml, no Pão de Açúcar). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo de fraco a médio.
8º - BORGES
Nota metálica, defeito que pode ter sido originado em equipamentos; é apenas picante, sem conter amargor ou aromas e sabores de fruta. Origem: Espanha; produzido em agosto de 2016. Preço: R$ 17,75 (500 ml, no Extra). Bico: não é retrátil, mas é duplo, com saídas para fluxo forte e fluxo fraco; não deixa vazar.
7º - CARBONELL
Um azeite doce, parece fermentado, o que é um defeito de aroma; na boca, tem nota láctea e de ranço, desagradáveis; amargor alto. Origem: Espanha; envasado em maio de 2016. Preço: R$ 29 (500 ml, na Casa Santa Luzia). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo de fraco a médio.
6º - GALLO
Não é ruim no nariz, com notas maduras agradáveis, que lembram tomate; mas na boca tem picância muito perceptível e alta adstringência, com residual amargo. Origem: Portugal; fabricado em julho de 2016. Preço: R$ 25,69 (500 ml, no St Marche). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo médio.
5º - YBARRA
Promete no nariz algo que não entrega à boca; notas leves de ranço, um defeito; é um azeite “plano”, sem personalidade. Origem: Espanha; envasado em fevereiro de 2016. Preço: R$ 21,90 (500 ml, no Pão de Açúcar). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo médio.
4º - OLITALIA
Toque de amargor e picância, é um azeite arredondado; tem aroma adocicado, mas não chega a ser desagradável ou enjoativo. Origem: Itália; envasado em agosto de 2016. Preço: R$ 19,90 (500 ml, no Empório Santa Maria). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo forte.
3º - DE CECCO
Notas herbáceas aparecem no nariz, parece fresco, não tem aromas de defeito; na boca, a picância mais alta do que o amargor faz dele um azeite interessante. Origem: Itália; envasado em julho de 2016. Preço: R$ 30,60 (500 ml, na Casa Santa Luzia). Bico: não é retrátil, mas não deixa vazar pela borda; fluxo forte.
2º - HERDADE DO ESPORÃO
Bem equilibrado, de picância leve, tem notas herbáceas (lembra grama recém-cortada no nariz), remete a alcachofra; sabor persistente. Origem: Portugal; envasado em agosto de 2016. Preço: R$ 30,10 (500 ml, na Casa Santa Luzia). Bico: não é retrátil, mas não deixa vazar pela borda; fluxo médio.
1º - DELEYDA
Campestre, tem o herbáceo bem marcado, notas de azeite fresco; na boca, lembra tomate, tem sabor; bom equilíbrio entre picância e amargor; um azeite com personalidade. Origem: Chile; fabricado em agosto de 2016. Preço: R$ 33,50 (500 ml, no Pão de Açúcar). Bico: não é retrátil, mas não deixa vazar pela borda; fluxo médio.
O grupo de degustação reuniu dois profissionais, o degustador de azeites Paulo Freitas e o empresário Arnaldo Comin (dono da Rua do Alecrim, empório especializado em azeites brasileiros), além do chef espanhol Oscar Bosch, do restaurante Tanit, a editora do Paladar, Patrícia Ferraz, a colunista de vinhos Isabelle Moreira Lima e a repórter Renata Mesquita. 
A avaliação confirmou a tese de que os azeites envasados pelo próprio produtor (caso de Deleyda e Herdade) saem-se melhor porque, com curto intervalo entre colheita e processamento, correm menos risco de serem adulterados, diz Paulo Freitas. Além disso, as empresas que só são envasadoras compram azeite de vários produtores e podem fazer blends, além de poderem envasar azeites já velhos (e quanto mais jovem o azeite, melhor).
A legislação brasileira não ajuda, já que não obriga a indicação da safra no rótulo – só a data de envase e validade. Assim, o envasador indica que o produto foi engarrafado em agosto deste ano, por exemplo, mas não quer dizer que tenha sido colhido na última safra. Na Europa, onde estão os maiores produtores de azeite do mundo (o primeiro é a Espanha), a safra de azeitonas vai de outubro a novembro; já no Brasil, a colheita é de março a abril.

 
  Foto: Daniel Teixeira|Estadão
Os copos usados na degustação de azeites são azuis, para a cor de cada marca não influenciar os participantes da prova.
Os copos usados na degustação de azeites são azuis, para a cor de cada marca
 não influenciar os participantes da prova. Foto: Ana Paula Boni|Estadão                                                          
                    Muito além da acidez – que deve ser de até 0,5% nos azeites extravirgens e que por anos guiou consumidores em busca de “bons” azeites – outros atributos definem a qualidade: aromas e sabores (notas de frutas, legumes e ervas, como tomate, maçã, lavanda), picância (não o ardor típico da pimenta, mas a picância que pega no fundo da garganta) e amargor (sim, todo azeite extravirgem deve ter um toque amargo; é a adstringência trazida pela presença de polifenóis). 
São esses atributos que vão guiar a harmonização de um azeite com pratos. Não adianta querer colocar azeite suave em um prato muito condimentado. “Pratos como paella e moqueca pedem azeite intenso, com pungência. Já uma salada leve vai bem com um azeite pouco amargo e pouco picante”, diz Paulo.
  • 10º - ANDORINHA

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